Fonte: O Dia Digital & Tal
Tuiteiros cariocas se destacam na rede social com frases cômicas
POR DANILO MOTTA
Rio - Frases de efeito, piadas sobre o trânsito e sátiras com o mundo das celebridades. Esta é basicamente a fórmula que popularizou um grupo de cariocas da Zona Norte no Twitter. Eles se conheceram no site e se destacam não apenas em número de seguidores, mas também pelas polêmicas em que, não raro, se envolvem.
Ronald Rios é um desses perfis que a maioria dos tuiteiros conhece. Aos 22 anos, ele já acumula mais de 76 mil seguidores em seu perfil @RonaldRios, onde compartilha vídeos engraçados que encontra pelo YouTube, comentários sobre futebol e narra cenas inusitadas que passa ao lado da namorada. Ele conta que, após seu perfil se popularizar na rede, passou a se policiar antes fazer alguns comentários, como críticas a algum programa de televisão, por exemplo.
Em sentido horário: Ronald Rios, Thiago Tonkiel, Camilla Lombardi, Renato Bacon, João Marcio Dias e Vyktor Berriel, que evita mostrar o rosto na Internet | Foto: Reprodução
"Algumas pessoas não entendem que eu tenho todo direito de não gostar de um programa e dizem que eu estou com inveja. E não é o caso! Eu não gosto mesmo daquela atração e não gostaria de estar ali por nada", justifica.
Ronald é morador de Bonsucesso, mas não raro vai a São Paulo a trabalho - ele é roteirista de programas de humor. Para ele, não existe uma espécie de bairrismo entre os usuários do Twitter.
"O que existe é uma identidade entre as pessoas que usam o Twitter, não importa se ele mora aqui perto ou no Rio Grande do Sul, por exemplo" diz.
Ronald Rios explica o sentido da gíria carioca | Foto: Reprodução
A opinião é compartilhada por Thiago Tonkiel - o @Tonkiel. Morador da Tijuca há cinco anos, Tonkiel é gaúcho e acredita que a diferença cultural entre as regiões não se reflete no comportamento de cada um no Twitter. "O carioca tem toda aquela malemolência, mas não acho que seja a ponto de ser diferente de outra região", avalia.
Com seus quase 11 mil seguidores, o "Tonka" - como é chamado pelos mais íntimos - diz que não sabe o motivo de sua relativa popularidade na rede, já que há outros perfis que ele considera mais engraçados, como o @abossal, @chicobarney e @ibere, que têm menos seguidores que ele. "Acho que, como eu critico muito o pessoal mais mainstream (famoso) da Internet, acaba que as pessoas me seguem esperando que haja algum tumulto. Essa galera da Internet curte muito uma 'briguinha' virtual", conta Tonkiel, que, como muitos no Twitter, usa uma outra imagem no seu avatar no lugar de uma foto própria.
Devido a algumas dessas "briguinhas virtuais", Tonkiel já foi rotulado de troll - apelido dado a quem se diverte em semear a discórdia na rede. Ele, por outro lado, rejeita a denominação e diz que o rótulo virou rota de fuga de alguns blogueiros quando não se tem mais argumento em uma determinada discussão. Visão parecida com a da tuiteira Camilla Lombardi, de 30 anos, responsável pelo perfil @camilla__l, que acredita que o conceito é usado equivocadamente.
"Esse conceito de troll é muito bobo. Muita gente classifica como trollagem uma simples crítica! Se for por criticar, então eu sou troll mesmo", brinca.
Moradora de Vila Isabel - "Isabel Village", como coloca em seu perfil -, ela se diz fiel defensora da Zona Norte e diz que vem observando uma identidade entre os os moradores da região no Twitter. "Eu acho que o pessoal da Zona Norte é mais relaxado, já que circula mais pela cidade. Dificilmente uma pessoa que mora no Leblon sai da Zona Sul pra visitar um amigo que more no Grajaú por exemplo", avalia.
Camilla brinca com a cor da caixa preta | Foto: Reprodução
Enfrentar o engarrafamento para circular pela cidade não é exatamente um problema para este grupo de tuiteiros. Ao contrário - às vezes o trânsito congestionado rende boas piadas. Pelo menos para João Márcio Dias, 25, o @joaomarcio. Morador da Ilha do Governador, ele sabe o que é passar horas no trânsito até chegar no trabalho, no Castelo, e adora ironizar os órgãos oficiais de trânsito na rede.
"Às vezes a CET-Rio coloca no Twitter às 18 horas que o trânsito está engarrafado na Austoestrada Lagoa-Barra. O trânsito está engarrafado alí todo dia nesse horário! Não precisa consultar o Twitter para saber disso", brinca.
João Márcio acredita que estar atento aos acontecimentos é uma boa estratégia para conseguir suas tiradas. "Não existe uma fórmula para se popularizar na rede, é preciso estar atento ao que está acontecendo no mundo, inclusive nas novelas", diz.
João Márcio faz piada com o que se passa nas novelas | Foto: Reprodução
O padrão é seguido também por Renato Cesar de Andrade, de 27 - o @RenatoBacon, que incorporou seu apelido de infância adquirido em Cordovil, onde mora até hoje. Ele, que é rádicalmente contrário ao uso de hashtags ("porque é desnecessário, só serve para poluir a tela"), também se diz atento à atualidade. "Geralmente brinco com o noticiário, fora o que está acontecendo no próprio Twitter", diz.
O que une estes tuiteiros é não só o bom humor e a proximidade geográfica. Todos eles se conheceram através do Twitter e hoje não raro saem juntos para um chope.
Um prêmio para Nilópolis
No final de abril, foi realizada em São Paulo mais uma edição do youPIX, festival de cultura digital que premia os maiores destaques da Internet no ano. O prêmio de melhor Tumblr (lê-se "tâmbler", espécie de blog que mantém algumas funcionalidades do Twitter) foi dado para Vyktor Berriel, de 22 anos, morador de Nilópolis. O nome, de grafia pouco convencional, é bastante conhecido no Twitter - é ele quem responde pelo @vyktorb, que já passa dos 10 mil seguidores.
No final do ano passado, Vyktor fez uma fotomontagem a partir de uma imagem bíblica. O resultado fez sucesso na rede e ele resolveu repetir o feito. Após algumas montagens produzidas, ele criou o Tumblr. Agora, o site ostenta o posto de melhor do ano.
"Foi tudo sem querer, não planejei nada. Conhecia uma galera no Twitter que foi repassando minhas imagens. Elas chegaram na mão de alguns blogueiros famosos e o resultado foi esse", conta o rapaz, que sequer pode ir à premiação.
Vyktor conta que nunca teve problemas com a Igreja e que a maioria das pessoas entende que o site se trata de uma brincadeira, não de uma falta de respeito. Mesmo assim, prefere não mostrar seu rosto em seus perfis pessoais e em entrevistas. "Já recebi alguns e-mails de religiosos mais fervorosos reclamando do site. Seja como for, prefiro não aparecer, a foto do meu perfil é mais engraçada que o meu rosto", brinca.
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